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Cervejinha descontrai, mas pode ser gatilho para ansiedade e depressão

O álcool é uma das substâncias psicoativas mais consumidas no mundo, frequentemente associado à socialização e à descontração. No entanto, seus efeitos sobre a saúde mental vão muito além disso.

Segundo Arthur Guerra, psiquiatra e coordenador do Núcleo de Álcool e Drogas do Hospital Sírio-Libanês, o álcool pode inicialmente melhorar as interações sociais, mas também provoca alterações de humor e comportamento, podendo levar à euforia, depressão, perda de julgamento e controle emocional.

Com o consumo frequente, há maior risco de ansiedade, depressão e comprometimento das funções cognitivas, como memória recente, concentração e raciocínio. 

O impacto na vida social e nas relações pessoais também se torna evidente, afetando amigos e familiares.

O uso prolongado da substância traz outros problemas graves. “As consequências podem chegar à instalação da síndrome Wernicke-Korsakoff, com sequelas de confusão mental e amnesia prolongada, muitas vezes irreversíveis”, afirma Pablo Sauce, coordenador do Programa de Adicções Generalizadas da Holiste Psiquiatria, de Salvador (BA).

De acordo com Guerra, o álcool também danifica o tecido cerebral, podendo causar atrofia no hipocampo e na região frontal, levando a uma redução do tamanho do cérebro e outras alterações neurológicas significativas.

Gatilho para transtornos psicológicos
Pessoas com quadros de vulnerabilidade psicológica, como ansiedade, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia ou comportamento obsessivo-compulsivo, frequentemente utilizam o álcool como uma forma de alívio. Inicialmente, ele pode transmitir uma sensação de diminuição da ansiedade e promover um aparente estado de calma. No entanto, o especialista alerta que esse efeito é transitório. 

“Pouco tempo depois, o álcool pode agravar os sintomas psicológicos, levando a pensamentos depreciativos ou até suicidas”, ressalta Guerra… 

Usar a substância como forma de relaxamento após um dia estressante também é comum, mas Zila Sanchez, chefe do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que essa sensação é ilusória. Embora o álcool possa facilitar o sono em um primeiro momento, ele compromete a continuidade e a qualidade do descanso.

“Há interferência nos ciclos do sono, especialmente no sono REM [fase em que há intensa atividade cerebral]. Isso resulta em uma qualidade de sono inferior, levando à fadiga e a um pior estado de alerta no dia seguinte e insônia a médio prazo, o que perpetuará o ciclo de estresse”, diz Sanchez.

O efeito sedativo ocorre porque ele age no sistema nervoso central, reduzindo a atividade neural. Essa ação proporciona uma sensação inicial de calma, mas o resultado a longo prazo pode ser o oposto. “O consumo frequente pode gerar tolerância, fazendo com que a pessoa precise de cada vez mais doses para conseguir o efeito desejado, aumentando o risco de dependência física e psicológica”, alerta Marina Thibes, coordenadora do Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool).

Há quantidade segura?
Segundo Guerra, não existe uma quantidade de álcool totalmente segura. Ele explica que, dependendo da pessoa, da situação e de diversas circunstâncias, o consumo pode trazer problemas. “Em alguns casos, isso é mais evidente, como durante a gestação ou ao dirigir, em que nenhuma quantidade é considerada segura”, diz.

“Embora uma pessoa sem dependência de álcool possa consumi-lo ocasionalmente sem apresentar problemas, não é possível garantir que esse consumo estará isento de impactos negativos. Qualquer ingestão de álcool está associada a riscos”, enfatiza o psiquiatra.

fonte: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2025/02/03/como-o-consumo-de-alcool-pode-impactar-a-saude-mental.htm